domingo, 13 de setembro de 2009

A MESOPOTÂMIA

COM A CIDADE, SURGE O ESTADO

As primeiras cidades se formaram justamente na região onde a agricultura começou a se desenvolver: no Oriente Médio, em uma extensa faixa em forma de meia-lua, conhecido como Crescente Fértil. Atualmente essa área corresponde a partes do território do Iraque, da Síria, do Líbano, da Jordânia e de Israel.

No longo processo de transformação da comunidade agrícola em cidade, as decisões foram, pouco-a-pouco, se centralizando em uma só pessoa: o rei. Respeitado e temido pela população, ele passou a controlar todas as atividades. O rei era a autoridade política máxima, o chefe religioso, o líder militar e o grande juiz. Nomeava funcionários para cobrar impostos e cuidar da administração, declarava guerra, mandava erguer templos e realizava o culto aos deuses. Ele reunia sob sua autoridade toda a população de seus domínios. O rei antigo era a personificação do Estado.

Como constituíam unidades políticas autônomas, as primeiras cidades do Oriente Médio são chamadas de cidades-estados. Elas começaram a surgir por volta de 3500 a.C., na Mesopotâmia.

A Mesopotâmia é uma extensa planície entre os rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Ali surgiram também os primeiros reinos, formados por diversos povos: sumérios, babilônios, hititas, assírios e caldeus. Eles realizaram conquistas importantes para a humanidade: inventaram a escrita, estabeleceram o código de leis, desenvolveram a metalurgia do ferro, introduziram o uso do cavalo e, baseados em seus estudos astronômicos, criaram o relógio de sol e o calendário, dividiram o dia em 24 horas e o circulo em 360 graus.

Os povos mesopotâmicos enfrentavam muitas dificuldades. A terra era fértil, mas as chuvas eram escassas e os rios provocavam enchentes tão grandes que destruíam os campos de cultivo. Era necessário abrir canais de irrigação, construir diques e celeiros. Esse esforço era controlado pelo rei, que todos acreditavam ter sido enviado pelos deuses para governar todo o povo. Era o representante dos deuses na Terra e servia com intermediário entre eles e os homens. Obedecer ao rei era, portanto, como obedecer aos deuses.


 

A VIDA SOB AS ORDENS DO REI

À volta do rei estavam membros da minoria social dominante que o ajudavam na administração do reino: altos funcionários, governadores, militares e sacerdotes. Esse pequeno grupo não exercia nenhum trabalho manual e usufruía de uma vida confortável e farta. Vivia próximo ao rei e acabava também tendo autoridade sobre o restante da população.

Quanto ao restante da sociedade, havia muitos grupos com diferentes situações sociais: comerciantes, escribas, médicos, soldados, camponeses, artesãos, pedreiros, carregadores de água, escravos etc. Desses, a maioria era formada pelos camponeses que trabalhavam sob o regime de servidão coletiva. Na Mesopotâmia, as terras pertenciam juridicamente aos templos e os camponeses, para poderem cultivá-las, pagavam parte da colheita e estavam obrigados a trabalhar nas obras publicas. Os sacerdotes, principal elo de ligação entre o rei e os trabalhadores, os submetiam através da fé e da coerção.

Muitos escravos eram prisioneiros de guerra. Mas um homem livre em dificuldades financeiras ou obrigado pela fome podia vender os filhos ou a si mesmo e a toda a sua família como escravos. Estava garantida aos escravos por dividas a reconquista de sua liberdade, caso conseguissem saldá-las.

O rei também controlava o comercio, que, na Mesopotâmia, era muito ativo. Faltavam no país metais, madeira e pedras. Usava-se a cevada, a lã e a prata como padrão de valor para as transações comerciais. Muitos mercadores emprestavam a juros, compravam terras e contratavam trabalhadores. Isso permitiu que muitos deles enriquecessem.

A atividade comercial mesopotâmica foi a origem das modernas operações comerciais e bancarias. Para cada negocio, estipulava-se um contrato escrito em tabuinhas de argila e depois selado com selos cilíndricos. Foram encontrados milhares de tabuinhas e selos referentes a contrato de casamento, vendas, listas de viveres, tratados, empréstimos etc.

Entre as principais culturas agrícolas na Mesopotâmia estavam a cevada, que era transformada em farinha e da qual se fazia cerveja; o sésamo, do qual se extraia um óleo; a tamareira, a vinha e a figueira. Criavam-se ovelhas, bois, asnos e, a partir do primeiro milênio a.C., cavalos. Os mesopotâmicos também se destacaram na fabricação de tijolos, na metalurgia, no trabalho em pedra para a construção, na fabricação de bebidas e perfumes, na tecelagem e na tinturaria.


 

A JUSTICA DO REI

Hamurabi foi um importante rei da antiga Mesopotâmia. Em seu reinado conseguiu unir os diversos povos de toda a região. A cidade da Babilônia tornou-se o centro de seu império. Governar uma população tão numerosa e diferenciada não era fácil. Hamurabi fixou regras para centralizar seu governo em termos administrativos e jurídicos. No final de seu longo reinado (1792 a 1750 a. C.), mandou gravar em pedras suas sentenças e leis. Elas ficaram conhecidas como Código de Hamurabi.

Eram 282 regras distribuídas em 3,5 mil linhas e 51 colunas. A estela de pedra com o código tem 2,25 de altura. No alto, foi esculpida a figura de Samash, o deus da justiça, simbolizado pelo Sol, sentado em seu trono. À sua frente, de pé, o rei Hamurabi recebe as leis para julgar a população. A pedra ficava exposta no pátio do templo do deus Marduk, na Babilônia, para consulta publica. Seu objetivo era o de assegurar a justiça sobre toda a população.

O Código tratava de diversos assuntos e das punições a serem aplicadas aos culpados. Abrangia questões relacionadas à família, à terra, ao comercio, à propriedade, à herança, à escravidão, entre outras. As leis nos oferecem um retrato da sociedade mesopotâmica, pois mostra os deveres e os direitos de cada grupo social. Em sua maior parte, o código segue o principio da Lei de Talião, "olho por olho, dente por dente". As penas impostas variavam conforme o tipo de crime e o grupo social ao qual pertencia a vitima ou o réu.


 

A ARQUITETURA RELIGIOSA E REAL

A Babilônia foi, por séculos, a cidade mais importante da Antiguidade oriental. Suas construções imponentes e fortificadas simbolizaram, para muitas gerações, o poder do Estado, da forca militar e da autoridade religiosa. Possuía templos, palácios, muralhas, torres de vigia. Foi no reinado de Nabucodonosor (604-562 a.C.), marcado pela construção de grandes obras publicas, que se ergueram os Jardins Suspensos da Babilônia. Ate hoje são considerados uma das "maravilhas do mundo".

O templo mesopotâmico, construído no alto de uma grande torre chamada zigurate, era dedicado ao um único deus. Como a religião mesopotâmica era politeísta, existiam numerosos templos nas cidades. A cidade da Babilônia, põe exemplo, possuía cerca de cinqüenta templos para os grandes deuses e quase mil capelas para divindades menores. Era obrigação do rei ergue-los, pois acreditava-se que só assim os deuses ajudariam o povo, proporcionando-lhe água, fartura e vitorias.

As construções eram feitas de tijolos com tamanhos padronizado e vitrificados, uma técnica inventada pelos mesopotâmicos. Além de serem resistentes e duráveis, ainda protegiam o edifício da umidade provocada pelas infiltrações de água.

Os mesopotâmicos aperfeiçoaram a técnica de fabricação de tijolos devido à escassez de pedra. Seus tijolos vitrificados deram origem ao azulejo, um material impermeabilizante e decorativo.

Os povos mesopotâmicos valorizavam a forca física, a coragem e a ousadia. Seus deuses eram guerreiros e caçadores. As paredes dos palácios exibiam pinturas com cenas de guerra e de caca, onde o rei aparecia sempre vitorioso. Nas esculturas, acentuavam os elementos que, para eles, simbolizavam a bravura e a forca física: os músculos, a barba e o cabelo, a juba dos leões e as asas e garras dos pássaros. A figura do rei, devido ao seu caráter sagrado, era geralmente maior que a dos outros personagens, sobretudo os vencidos e prisioneiros. Sua altura era a mesma dos deuses.

"Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" (Is 45:22a)