domingo, 13 de setembro de 2009

A VARIEDADE DOS POVOS AFRICANOS

I. A África Nilótica e Saariana.

As informações mais antigas acerca dos povos africanos referem-se ao Egito, onde floresceu ha cinco mil anos, no valo do rio Nilo, uma civilização que durou mais de dois mil anos se deixou algumas marcas de sua grandeza, como os túmulos reais e as pinturas. Ainda na região do Nilo, outra civilização grandiosa foi a Núbia (cerca de 750 a.C.), localizada na forquilha formada pelo encontro do Nilo Branco com o Nilo Azul. Nessa região, localizada no atual Sudão, houve sucessivos reinos que se impuseram sobre seus vizinhos, destacando-se Meroe, em torno de 500 a. C., e Etiópia, que desde o século VI da nossa era incorporou o cristianismo como religião oficial.

Desde o ano 100 de nossa era havia cristãos em Alexandria, no Egito; e no século IV o evangelho era pregado na Núbia, que se ligava tanto ao Egito pelo Nilo, como à Palestina, pelo Mar Vermelho. Na Etiópia, ao sul da Núbia, o cristianismo chegou principalmente pelo mar Vermelho e resistiu à constante pressão que o Islamismo exerceu sobre ele.

Essas regiões eram habitadas por povos oriundos da península Arábica, misturados com populações originarias do continente africano. Foi pelos portos do Mar Vermelho e pelo istmo de Suez que tanto os cristãos como os árabes penetraram no continente africano, mantendo com ele relações duradouras. A partir de 660, os seguidores de Maomé conquistaram povos a leste e a oeste da península Arábica levando consigo o Islamismo, religião que seria cada vez mais importante na África

Os habitantes do norte da África, onde hoje se localizam a Líbia, a Tunísia, a Argélia e o Marrocos, eram conhecidos como berberes e sofreram forte influencia árabe desde o século VII. Mas "Berbere" também é o nome dado a uma variedade de povos nômades, que viviam na região do deserto, que criavam camelos e conheciam os oásis e os poços de água, como os azenegues e tuaregues. No vale do rio Nilo e em algumas terras férteis próximas à costa, agricultores se fixaram em torno de aldeias ou cidades maiores. O pastoreio e o comercio eram as atividades de muitos. Na costa do Mediterrâneo estavam os portos por onde passavam as mercadorias trazidas pelas caravanas que transitavam pelo deserto do Saara e pelo Sael.

O deserto do Saara era, como ainda é, habitado por uma variedade de povos nômades, que o conheciam muito bem. Esse conhecimento fazia deles os guias que tornavam possível o transito de pessoas e produtos por regiões tão inóspitas. O camelo, animal trazido da península Arábica - embora já existisse no Egito Antigo - passou a ser usado com mais freqüência somente a partir do século VI de nossa era. Com ele, as condições de circulação pelo deserto melhoraram muito, graças à sua forca e à sua capacidade de ficar muitos dias sem comer e beber água. O camelo facilitou a comunicação através do deserto e sustentou um comercio que uniu o Sael ao norte da África e ao Mediterrâneo. Dai as cargas ainda seguiam para a península Arábica e para o mar Vermelho, por terra e por mar.

802. 11/09/09 Os comerciantes tuaregues ligavam toda a região do Sael, no passado também conhecido como Sudão - em árabe Bilad al-Sudan (que quer dizer terra de negros) -, ao norte islamizado da África. Eles foram os principais difusores do islã por toda essa região que corresponde mais ou menos aos atuais países do Sudão, Chade, Níger, Mali, Burquina Faso, Mauritânia e Saara Ocidental. Foi ai que se formaram os antigos impérios de Gana (séculos VI a XIII), Mali (séculos XIII a XVII) e Songai (séculos XVII e XVIII).

Para a existência de todos esses impérios foram decisivas as condições físicas do delta interior do Níger, como é chamada a região onde esse rio faz uma acentuada curva para o sul. Na altura dessa curva forma-se uma rede de rios e canais interligados que fertilizam a região vizinha do Saara.

Essa fertilidade garantiu o sustento de muita gente, tanto nativa como a que estava de passagem.

Esses rios também favoreciam as atividades comerciais, que se serviam deles como vias de locomoção. As canoas eram o principal meio para transportar as cargas das caravanas que iam e vinham, ligando as áreas de florestas ao deserto e aos portos do Mediterrâneo, aos quais as mercadorias chegavam em lombos de camelos.

Nas cidades mais freqüentadas pelos comerciantes, que por ali circulavam desde o século VI, e onde as terras era mais férteis, como Tombuctu, Gaô, e Jené, no atual Mali, havia muitos azenegues, tuaregues e outros berberes, todos eles povos arabizados. Mas os povos que moravam nessas regiões eram diferentes desses habitantes do deserto e do norte da África e não eram muçulmanos. Ali viviam principalmente mandingas e fulas, mas também uma variedade de outros grupos que faziam questão de se manter diferentes de seus vizinhos, mesmo convivendo lado-a-lado. Além de comerciar com os nômades do Saara, eles eram pastores, cultivavam alimentos, faziam tecidos e cerâmicas e trabalhavam o couro.

Nas cidades se concentravam os comerciantes, os administradores, os artesãos e os mais ricos, e ao redor delas os que plantavam e criavam os animais, abastecendo as cidades, além de produzir o sustento de suas famílias. Mesmo convivendo de maneira muito próxima, cada grupo guardava sua identidade. Cada um deles repetia as histórias de seus antepassados e de seus chefes, mantinha suas regras de convivência, seus valores e suas crenças e falava línguas e dialetos diversos. Mas, apesar das identidades particulares, os diferentes grupos conviviam em harmonia, se completavam e ajudavam.

Apoiadas pela fertilidade, que facilitava a manutenção e reprodução dos grupos, as caravanas que por ali passavam eram a principal causa da prosperidade da região. Por estarem à beira do deserto e ligadas a uma rede de rios usados como meios de transporte, essas cidades passaram a ser importantes centros de comércio.

"Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" (Is 45:22a)